Carta às lideranças e autoridades constituídas da Cidade do Crato
Nós, Padres da Cidade do Crato, manifestamos nossa preocupação com a derrubada do veto e
aprovação do projeto de lei, na noite desta segunda-feira (28), na última sessão da Câmara
Municipal do Crato, por dez votos a seis. Tal Projeto de Lei (PL) Nº 1412001/2020, conforme
sabemos, dispõe sobre a desafetação da Zona Especial Ambiental (ZEA) Rio Batateiras, para
transformá-la em Zona Residencial de média densidade (ZR3).
Manifestamos nosso total apoio aos ambientalistas e diversas instituições engajadas na causa
de proteção do nosso meio ambiente, que acreditam e confirmam, com base em diversos
estudos, que essa rápida e irrefletida decisão pode gerar riscos à população. A ZEA do Rio
Batateiras e sua nascente têm alta importância para o abastecimento do aquífero da cidade de
Crato e da região do Cariri. A desafetação irá gerar um grande impacto ambiental para a
cidade e região, pois o Rio Batateiras dá origem ao Rio Salgado. Ao desafetar a área e
transformá-la em Zona Residencial, serão gerados alguns impactos, devido a área se encontrar
entre o curso de dois rios, além de ser uma área de pântano, que sofre alagamento no período
chuvoso. A desafetação e, consequentemente, a construção de residências nessa área afetaria
a dinâmica das águas pluviais (originadas das chuvas) e fluviais (originadas dos rios), impedindo
também parte da recarga do aquífero da região, além da supressão vegetacional que causará
alterações na fauna local e no solo. Esses problemas surgirão de médio a longo prazo, como já
acontece em várias áreas do município de Crato.
Vale também lembrar a importância religiosa, histórica, cultural, antropológica e arqueológica
do Rio Batateiras. Para os índios Kariri o Rio Ytaytera, como era chamado (pedra que a água
leva/pedra da correnteza), é sagrado e de grande importância ancestral. O Rio Batateiras e
suas margens deveriam ser alvo de iniciativas de proteção e demarcação, como território
ancestral e patrimônio histórico, arqueológico e cultural, ao invés de ser violentado por alguns
representantes políticos e pelo capital imobiliário.
Clamamos ao Ministério Publico e autoridades constituídas que se empenhem energicamente
contra a derrubada deste veto, já que são conhecedores de uma série de inconsistências legais
no seu processo de tramitação, como a ausência de estudos técnicos e debate público
aprofundado; sem contar toda a gama de implicações de ordem ambiental para o ecossistema
do Rio Batateiras, e, por conseguinte, de toda a Bacia Hidrográfica do Rio Salgado.
Comprometemo-nos, como pastores que somos, em realizar, juntamente com toda sociedade,
uma aprofundada reflexão. Sabemos que a situação evidencia a necessidade de campanhas e
mobilizações permanentes em defesa do meio ambiente da região, contra a especulação
imobiliária e o avanço irracional que visa tão somente o lucro.
No dia 24 de maio de 2020, teve início o Ano Especial dedicado à Encíclica Laudato si. Na
Encíclica Francisco de Roma coloca-se na esteira de Francisco de Assis, para explicar a
importância de uma ecologia integral, que se torna um novo paradigma de justiça, em que a
preocupação com a natureza, a equidade para com os pobres e o compromisso com a
sociedade, são inseparáveis. Certamente, sublinha a Encíclica, é preciso investir na formação
para uma ecologia integral, para compreender que o ambiente é um dom de Deus, uma
herança comum a ser administrada, não para ser destruído. O Ano Especial se concluirá em 2021, mas tem como objetivo propor um compromisso público comum com a
“sustentabilidade total”. O Papa Francisco pede que sejam envolvidas as famílias, dioceses,
ordens religiosas, universidades, escolas, unidades de saúde e o mundo dos negócios, com
especial atenção às empresas agrícolas.
Concluímos essa carta na firme esperança de que toda essa situação seja revertida e o nosso
Cratim de Açúcar seja terra, plena e satisfatoriamente habitável, para as nossas futuras
gerações. Desejamos a todos e a todas um Feliz Ano Novo!
Crato-CE, 01 de Janeiro de 2021
Solenidade da Mãe de Deus e Dia Mundial da Paz
Pe. José Ricardo Barros de Sales (Vigário Forâneo, Pároco da Paróquia São José Operário e
Administrador da Área Pastoral São Sebastião em Dom Quintino)
Pe. José Vicente Pinto de Alencar da Silva (Vigário Geral e Cura da Catedral)
Pe. Rocildo Alves Lima Filho (Reitor do Santuário Eucarístico Diocesano)
Mons. João Bosco Cartaxo Esmeraldo (Santuário Eucarístico Diocesano)
Mons. José Honor de Brito (Membro da Equipe de Formação do Seminário São José)
Pe. Cícero Luciano Lima (Reitor do Seminário Propedêutico Dom Fernando)
Pe. Aureliano de Sousa Gondim (Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima)
Pe. Raimundo Elias Filho (Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Fátima)
Pe. Sebastião Monteiro da Silva (Fundador da Comunidade Filhos Amados do Céu)
Pe. Arileudo da Silva Machado (Pároco da Paróquia São Francisco)
Pe. Francisco José Bezerra de Sousa (Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Penha)
Pe. Luiz Carlos da Silva (Vigário Paroquial da Paróquia São José Operário)
Pe. Joaquim Ivo Alves dos Santos (Ecônomo e Pároco da Pároquia N.Sra. Aparecida)
Pe. José Eliomar Tavares Serafim (Administrador da Área Pastoral Imaculada Conceição de
Maria)
Pe. Acurcio de Oliveira Barros (Reitor do Seminário São José)
Pe. Francisco Roserlândio de Souza (Diretor do Departamento Histórico da Diocese)
Pe. Francisco Georgerlanio de Brito Felipe (Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus)
Pe. José Ranilson Belém de Souza (Pároco da Paróquia Sagrada Família)
Pe. José Josias Gomes Araújo (Pároco da Paróquia São Miguel)
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