terça-feira, 2 de março de 2021

Secretário de Saúde diz que Brasil deveria estar em lockdown há duas semanas e cobra ações federais


Legenda: Secretário defendeu medidas mais duras
Foto: Fabiane de Paula

Os decretos estaduais estão menos rígidos, segundo Cabeto, por levarem em consideração as graves crises sociais e econômicas. Segundo ele, falta “liderança” do governo federa


Em meio ao quadro grave da saúde pública no Ceará, e na maioria dos estados brasileiros, o secretário de Saúde do Estado, Dr. Cabeto, diz que o “mundo ideal” era “estarmos em ‘lockdown’ no País inteiro” há mais de duas semanas. Entretanto, ele justifica que a adoção de medidas menos rígidas nos decretos do Estado do Ceará ocorre porque o governo está levando em consideração também as situações social e econômica delicadas. Cabeto não descarta a adoção de medidas mais rígidas em caso de piora da situação da pandemia, mas que isso está sendo avaliado a cada semana. 

Em um dia de tensão entre os governadores e o presidente Jair Bolsonaro, o secretário estadual, em entrevista exclusiva a esta coluna, cobra uma posição mais clara - e documentada – do governo federal, a respeito da pandemia e dos rumos a serem adotados no combate ao vírus. “Está claro que o presidente discorda do protocolo adotados pelo Ceará, que é o mesmo de outros estados. Entretanto, é preciso sabermos qual a posição do governo (federal) sobre o que fazer... E documentar isso”, cobra o secretário. 

“Quando você adota o isolamento rígido (lockdown), isso implica em uma série de fatores. Diminui a carga de atendimento de outras doenças nos hospitais, por exemplo. Tivemos aqui um bom resultado no ano passado com o lockdown. Mas agora, as condições são outras. Estamos adotando medidas tentando impactar menos a economia. Se você me pergunta se isso vai ser eficaz, eu digo que é cedo para dizer. Temos que aguardar”, diz o especialista, ao reforçar que é por isso que o comitê estadual analisa os dados a cada sete dias. 

Segundo ele, para a decretação de um lockdown neste momento, seria necessária uma convergência entre as autoridades nos diversos níveis no País. “Tínhamos que construir um discurso conjunto, diferente do que está acontecendo agora. Infelizmente, não há espaço para isso. O que estamos vendo é exatamente o contrário. Isso gera uma tensão social gigantesca”, critica em referência aos posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro contrário às medidas de combate à Covid-19. 


Em relação a situação atual do Estado, o secretário diz que ainda não há uma perspectiva de redução dos atendimentos a casos de covid-19 na rede pública de Saúde.  

“Estamos notando a necessidade de abrir mais leitos. A gente abre leitos e já surgem novas demandas. A sociedade precisa se conscientizar de que se continuar crescendo da forma que está há um risco real de ficar gente desassistida”, alerta o secretário.  

Neste contexto, uma boa notícia que ele considera é o fato de estar havendo circulação de pessoas na Capital e isso pode ajudar a reduzir os contágios. 

Cobrança federal 

Cabeto é um dos secretários de Saúde estaduais que assinou a carta divulgada nesta segunda (1º) dos gestores estaduais ao governo federal. Os especialistas defendem toque de recolher nacional, suspensão de eventos presenciais e outras medidas rígidas principalmente nos locais com mais de 85% de ocupação dos leitos hospitalares. 

O secretário cearense vai além nas cobranças ao Ministério da Saúde. “A União está se excluindo de propor soluções. Estamos sem liderança. Se o governo e o ministro pensam diferente dos estados, mande um documento para os estados dando as orientações que o Ministério considera corretas”, cobra o secretário. 



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