Não somente de Mato Grosso, mas agora de estados nordestinos, grande produtores de soja e de algodão estão a comprar terras na Chapada do Araripe. Já são 20 mil hectares.
Lançado há um ano e seis meses, o Projeto Algodão do Ceará – empreendimento tripartite, com a participação da Federação da Agricultura e Pecuária (Faec), da Federação das Indústrias (Fiec) e do Governo do Estado – avança na velocidade do xaxado.
Esta coluna pode informar que produtores de outros estados, não só de Mato Grosso, já chegaram à Chapada do Araripe, na região do Cariri, no Sul cearense, onde se desenvolve a primeira fase do projeto: o cultivo de soja e mandioca como preparação do solo para, dentro de dois anos, aí sim, serem plantadas as primeiras sementes de algodão.
Na Serra do Araripe, a 900 metros de altura acima do nível do mar, os mato-grossenses e os nordestinos de outras paragens que lá aportaram já são donos de mais de 20 mil hectares, que serão 40 mil até o fim do próximo ano, como informam fontes que, quase semanalmente, mantêm contato com os produtores.
Neste momento, porém, há um problema causado pela natureza: é, ainda, raquítica a pluviometria no Cariri, uma área que, no lado cearense (há o lado paraibano e o pernambucano) engloba 25 municípios. Na Chapada do Araripe, a agricultura é de sequeiro, ou seja, ela depende 100% da água das chuvas. No sopé da serra, porém, há um aquífero relevante que garante água para irrigação. Este Nordeste é uma terra de contrastes.
No “inverno” deste ano (a estação chuvosa), as precipitações têm sido intensas e volumosas em algumas regiões – como o Litoral, as serras de Baturité e Ibiapaba, uma parte do Sertão Central, a Chapada do Apodi – enquanto em outras – como o Cariri, o Centro-Sul, com Iguatu no meio, os sertões de Crateús e os Inhamuns, incluindo Tauá – as chuvas registradas até agora têm sido insuficientes para fazer correrem os rios e riachos; por isto, os grandes açudes não foram ainda recarregados em volume esperado.
Candice Rangel, dona de fazendas em Brejo Santo e na Chapada do Araripe, onde cria bovinos da raça Nelore, disse à coluna, em tom de lamento, que, até agora, as chuvas caídas sobre o Cariri não alcançaram a média histórica, “mas a nossa esperança é de que elas retornem ao longo deste mês de março”, com o que estará salva, literalmente, a lavoura caririense. Otimista, ela mantém os investimentos programados na certeza de que a pluviometria melhorará nos próximos dias.
Segunda-feira, um grupo de 30 empresários, 95% dos quais do agro, conversou a respeito desta temporada de chuvas e todos se declararam esperançosos de que “teremos chuvas na média ou acima da média”, o que já acontece, por exemplo, na Chapada do Apodi e ao longo de todo os 570 quilômetros do Litoral.
Presentes à reunião, o casal Rita e Fernando Granjeiro, que, em Paracuru, cultiva feijão verde e água de coco o ano inteiro, não têm do que reclamar, muito pelo contrário:
“O Litoral Norte, assim como o Litoral Leste e Oeste, é uma área abençoada e, mesmo em anos de baixa pluviometria, sempre registra boas e fortes chuvas, o que está acontecendo de novo neste ano”, diz Rita Grangeiro com seu característico sorriso.
Retomemos o Projeto Algodão do Ceará, que terá espaço próprio na próxima Pecnordeste – a maior feira da agropecuária da região nordestina, que se realizará de 5 a 7 do próximo mês de junho, no Centro de Eventos.
“Não temos dúvida de que a Chapada do Araripe e a Chapada do Apodi serão, em pouco tempo, polos importantes de cultivo do algodão, uma vez que os projetos que lá se desenvolvem são tocados por grandes produtores, que conhecem a cotonicultura em profundidade e, por isto mesmo, utilizam, na irrigação e no sequeiro, a melhor tecnologia, incluindo as práticas mecanizadas de plantio e colheita”, como explica, com entusiasmo, Amílcar Silveira, presidente da Faec, que ressalta a parceria da Fiec, do Sebrae e do governo do Ceará, garantidora do êxito do Projeto Algodão do Ceará.
Ontem, terça-feira, a metade Norte do Ceará foi banhada por boas chuvas. A metade do Sul, onde está o Cariri, seguiu carente delas.
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