No momento, Fortaleza tem 27ºC de temperatura média e 1.600 milímetros (mm) de chuvas todos os anos, conforme registros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Caso o modelo preditivo seja confirmado, a temperatura média será de 31ºC, e a precipitação anual deve alcançar 2.224 mm.
Uma onda de calor, causada por uma área de alta pressão, afeta grande parte do Brasil e eleva a temperatura entre os Estados brasileiros nesta semana. Até o momento, não há uma definição sobre impactos para o Ceará. Os dados e análises apresentados nesta reportagem são referentes às mudanças climáticas com efeitos a longo prazo, e não causadas pelo fenômeno recente.
A projeção considera os indicadores mais altos onde há prejuízo da capacidade de dissipar calor com relação às emissões de gases causadores do efeito estufa. Mas qual deve ser o impacto prático no dia a dia do fortalezense?
“Desde (a proliferação) de doenças, como zika, chikungunya e dengue, até a modificação do sistema econômico, porque todas as áreas litorâneas têm o risco de perda de negócios e movimentação pela possibilidade de alagamentos”, detalha o especialista.
Alexandre Costa, professor na Universidade Estadual do Ceará (Uece) e doutor em Ciências Atmosféricas, pondera que, apesar da vantagem de estar no litoral, a população pode enfrentar problemas de saúde por desidratação e ondas de calor.
“Temos máximas que vão até os 34°C e, se sobrepor 4ºC, vai para uma temperatura maior do que a do corpo humano. Com a umidade alta a maior parte do ano, o suor não evapora, e o corpo perde essa capacidade regulatória”, analisa.
TRANSTORNOS COM CHUVAS
Alexandre Costa considera que a estimativa em relação à precipitação é mais incerta, mas diversos modelos climáticos apontam o aumento de chuvas no litoral nordestino. Avisos sobre esses efeitos, inclusive, não são recentes. No início dos anos 2000, o especialista já abordava o assunto.
Chuvas intensas e enchentes atingiram várias cidades do Rio Grande do Sul, onde além da devastação de casas, pontes, lojas e outras infraestruturas, causaram quase 50 mortes. Os desastres estão relacionados a um ciclone extratropical.
Já na Líbia, país no Norte da África, as chuvas torrenciais causaram milhares de mortes e cerca de 10 mil pessoas estão desaparecidas. Os dois locais foram afetados no início deste mês.
Sem o cuidado com as margens de lagoas ou outros corpos hídricos, como acrescenta, as chuvas concentradas são capazes de multiplicar os “episódios de caos na cidade”. Além disso, há mais problemáticas com a elevação do nível do mar.
Para entender o impacto das mudanças climáticas em Fortaleza, é preciso analisar as características reunidas no Plano Local de Ação Climática, elaborado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Seuma) e publicado em 2020.
Uma delas é o fato de a cidade ter uma das maiores densidades populacionais do País, com 8.579,59 habitantes por quilômetro quadrado, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, 78,8% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização.
O documento também considera o desafio das ocupações em áreas de risco e da população vivendo em assentamentos precários. Fortaleza possui 89 pontos considerados de risco, monitorados pela Prefeitura, como mostrou o Diário do Nordeste.
Também foi notado que os fortalezenses dão prioridade ao transporte individual motorizado em relação ao transporte público, segundo análise da Pesquisa Origem-Destino de 2019. Os resultados mostram que 26% das pessoas se locomovem de carro, 9% de motocicleta e 28% das pessoas usam ônibus.
Estamos numa emergência na qual a população em situação de vulnerabilidade social está mais exposta. Por isso, as ações precisam sair do debate e ganhar ações práticas, como analisa Alexandre Costa.
“É preciso fazer uma transição ecológica profunda e isso não é algo mais que pode ser adiado, é algo que envolve mudança nas formas de energia e de produção de alimentos, precisamos encerrar o desmatamento, recuperar áreas degradadas com reflorestamentos, rever a agropecuária”, lista.
“O incentivo ao transporte público tem que ser prioridade máxima, porque a maioria das emissões são de carro, por exemplo”, completa Marcelo. O transporte coletivo, inclusive, pode substituir o uso do diesel e gasolina por eletricidade, hidrogênio ou energia solar para reduzir as emissões.
“Outra questão é o modo de energia, incentivar cada vez a energia solar nas casas, embora a gente tenha muita energia renovável, ainda usamos muito o carvão, como a termelétrica que gera uma emissão imensa”, completa.
MARCELO SOARESPesquisadorEscrito por Lucas FalconeryPara o Diário do Nordeste
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