Idealizado pelo Sesc e pela Fundação Casa Grande, iniciativa se propõe a dar visibilidade à cultura popular e incentivar o turismo cultural em toda a região
Uma das ações para a manutenção e transmissão da cultura popular da região do Cariri, o projeto Museus Orgânicos ficou em segundo lugar no 11º Prêmio Ibermuseus de Educação, iniciativa anual realizada desde 2010 com o objetivo de fortalecer a função social dos museus por meio do fomento à realização de programas e projetos educativos. O anúncio foi feito no dia 17 de setembro, diretamente do Chile, via transmissão online pelo Faceebok. Neste ano, foram 210 inscritos de 16 países e, ao final, foram reconhecidas 20 iniciativas.
Os Museus Orgânicos têm como principal premissa estabelecer um vínculo entre o legado histórico do saber dos mestres da cultura e onde inicia e reside a tradição: suas moradas. A partir dessa premissa, suas próprias casas se transformam em lugares de memória e de afeto, permeados de fotografias, vestimentas, instrumentos e tudo aquilo que marca o cotidiano dos mestres. Para além dos objetos pessoais, os Museus Orgânicos mostram aos visitantes o bem mais precioso, embora intangível, que é o saber.
Tratando a cultura de tradição como parte integrante da expressão humana, o Sesc, braço social do Sistema Fecomércio – CE, é precursora no reconhecimento dos saberes dos Mestres de Cultura Tradicional do Cariri. O projeto dos Museus Orgânicos nasceu com o amadurecimento da parceira com a Fundação Casa Grande, localizada na cidade de Nova Olinda, para o fortalecimento de uma rede formada por lugares de memória, sendo o Sesc um ativador desses espaços.
Para Alemberg Quindins, criador da Fundação Casa Grande e do Memorial do Homem Kariri, primeira experiência dentro da perspectiva dos Museus Orgânicos, receber o Prêmio Ibermuseus de Educação representa a união de todas as instituições do estado do Ceará em prol da cultura popular. “Ficamos muito felizes com essa notícia! Trata-se de um prêmio internacional que reconhece esse projeto de inclusão e partilha de saberes e oportunidades sociais, a partir do trabalho em conjunto da Fundação, Sistema Fecomércio, Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, Universidade Regional do Cariri, instituições científicas internacionais e dos próprios mestres”, explica Quindins.
Assim como o criador da Fundação Casa Grande, Maurício Filizola, presidente do Sistema Fecomércio, também fez questão de comemorar o prêmio. “Esse reconhecimento só mostra que estamos, de fato, no caminho certo. Diferentemente do conceito de museu que a gente tem, o qual reverencia o passado, os Museus Orgânicos estão no nosso presente. Eles estão ali para reverenciar o trabalho daqueles mestres, tanto do que eles sabem fazer quanto também sabedoria. E é assim que seguiremos adiante, valorizando e contribuindo para a difusão de fazeres e saberes”, afirma.
A origem
Fundado em 1992, o Memorial do Homem Kariri realiza um trabalho de resgate da preservação da história dos habitantes do vale do Cariri. No acervo, doado pelos moradores, destacam-se peças líticas e cerâmicas, registros rupestres, fotografias, registros de lendas e mitos da região. As crianças fazem parte de toda a dinâmica do espaço, a partir de um trabalho com educação patrimonial.
Já em 2014, veio o Museu do Ciclo do Couro, mais conhecido como Memorial Espedito Seleiro. Dos pés dos vaqueiros às passarelas das principais semanas de moda do País, além de filmes e novelas, a arte deste mestre de reconhecimento nacional passou por cinco gerações e se mostra cada dia mais atual. No entanto, ela considera que todo e qualquer trabalho é de igual importância. E é justamente por isso que a sua memória está hoje, cotidianamente, na sua oficina e no Museu do Couro, onde todos podem ver, conhecer e, claro, se inspirar.
Da parceria do Sesc com a Fundação Casa Grande, já foram inaugurados mais sete Museus Orgânicos: Museu Casa do Mestre Antônio Luiz, Museu Oficina do Mestre Françuili, Casa Museu do Mestre Nena, Museu Casa do Mestre Raimundo Aniceto, Museu Casa Oficina Mestra Dinha, Museu Casa da Mestre Zulene Galdino e Museu Casa dos Pássaros do Sertão. A ideia é que, ao final do projeto, a região conte com 16 museus no total, que, juntos, vão ter a missão de preservar nossa cultura, cada vez mais expressiva, além de contribuir para o fomento do turismo social.
“Esse é o propósito de aproximação com a comunidade. A ideia é fazer com que a economia criativa seja gerada dentro deste conceito, que se possa realmente criar um roteiro que estimule cada vez mais a criatividade e que essa criatividade possa passar de geração pra geração”, pontua Maurício Filizola.
Luiz Gastão Bittencourt, vice-presidente administrativo da Confederação Nacional do Comércio corrobora com essa ideia. Além de resgatar a dignidade dos mestres, os Museus Orgânicos podem contribuir para que mais pessoas possam visitar o Cariri e conhecer de perto a história, o cotidiano, o ofício e a riqueza do trabalho desenvolvido por cada um.
“Não deixa de ser o início de uma prospecção turística de museus e de saberes que podem ser incorporadas com palestras, shows e com outras coisas que, posteriormente, com o decorrer do tempo, eu tenho certeza, vão se associando. Nosso objetivo é que tudo se torne uma célula viva, como é o próprio museu. Ele é vivo porque retrata o dia a dia desses seus personagens”, finaliza Gastão.
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