domingo, 13 de setembro de 2020

Geraldo Vandré chega aos 85 anos lembrado pelo sucesso ‘Caminhando’ e polêmicas


Aos 75, ele contou em entrevista que não deixou a música por perseguição dos militares
Irineu Tamanini/Direito Global Irineu Tamanini/Direito Global  12/09/2020 às 11:21 | Atualizado às 11:27
Geraldo Vandré chega aos 85 anos lembrado pelo sucesso ‘Caminhando’ e polêmicas
O jovem Geraldo Vandré no auge do sucesso com sua música de protesto contra o regime militar.

O advogado Geraldo Pedrosa de Araújo Dias completa 85 anos neste sábado (12). Nascido em João Pessoa, na Paraíba, por este nome passa por mais um brasileiro mas quando é citado o seu nome artístico – Geraldo Vandré – é reconhecido como um dos principais cantores e compositores do país. Vandré – seu sobrenome é uma abreviatura do sobrenome do seu pai, José Vandregísilo.

O livro de Vitor Nuzzi.
Em 2015, o jornalista – brilhante, por sinal – Vitor Nuzzi escreveu um livro denominado Uma canção interrompida, de quase 400 páginas e editado pela Scor Editora Tecci sobre a vida de Geraldo Vandré. Quem já leu, gostou muito. Quem ainda não teve oportunidade de ler, vale a pena procurar ou encomendar no site de uma livraria para saber o que realmente aconteceu na vida dessa cantor/compositor.

Vandré, autor de uma composição que se transformou em hino de resistência do movimento civil e estudantil à ditadura durante o governo militar, e que fazia oposição à ditadura durante aquele período. “Pra não dizer que não falei de flores”, mais conhecida como “Caminhando”, foi apresentada por ele em 1968 durante o III Festival Internacional da Canção como uma chamada à luta armada contra os ditadores.

No festival, a música ficou em segundo lugar, perdendo para “Sabiá”, de Chico Buarque e Tom Jobim. A música “Sabiá” foi vaiada pelo público presente no festival, que bradava, exigindo que o prêmio viesse a ser da música de Geraldo Vandré. Ainda em 68, com a edição do Ato Institucional número 5, “Caminhando” foi censurada e Vandré, que ficara marcado por setores militares mais duros, saiu do país exilado e seguiu para o Chile e depois para França.

Vandré disse que abandonou a música desmotivado para compor no Brasil vítima de um processo de massificação cultural.

 
Faculdade de Direito
Vandré mudou-se para o Rio de Janeiro em 1951 e ingressou na Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pela qual se formou em 1961. Militante estudantil, participou ativamente do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE). Conheceu Carlos Lyra, que se tornou seu parceiro em músicas como “Quem Quiser Encontrar o Amor” e “Aruanda”, gravadas por Lyra. Gravou seu primeiro LP, “Geraldo Vandré”, em 1964, com as músicas “Fica Mal com Deus” e “Menino das Laranjas”, entre outras . Em 1966, chegou à final do Festival de Música Popular Brasileira da TV Record com o sucesso “Disparada”, interpretado por Jair Rodrigues. A canção arrebatou o primeiro lugar ao lado de “A Banda”, de Chico Buarque.

Hoje, Geraldo Vandré reside no centro da cidade de São Paulo, mas sempre viaja para o Rio de Janeiro ou Imbituba, no litoral sul de Santa Catarina. Em 12 de setembro de 2010 (dia de seu aniversário de 75 anos), Vandré concedeu no Clube de Aeronáutica no Rio de Janeiro uma polêmica entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, onde critica o cenário cultural brasileiro desde os anos 1970 e afirma que seu afastamento da música popular não foi causado pela perseguição sofrida pela ditadura militar, mas sim pela falta de motivação para compor ao público brasileiro, vítima do processo de massificação cultural.

Relembre os versos da música “Pra não dizer que não falei de flores”:

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

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