quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Mulheres alimentam famílias com restos de comida jogados no lixo


Com perda de fonte de renda e responsabilidade pela alimentação dos membros da família, mulheres recorrem ao lixo de um supermercado no bairro Cocó

 Acordar cedo, sair de casa e ir para a saída dos fundos de um supermercado esperar o momento em que o caminhão da coleta de lixo vai passar. Assim que o carro chegar, ser ágil e pegar a maior quantidade de comida que conseguir antes que os restos jogados fora pelo supermercado toquem o lixo que já está no caminhão. O objetivo é escolher os melhores produtos, que ainda possam ser comidos, para levar para casa e alimentar a família.


“Eu trabalhei de lavadeira por mais de 10 anos na casa dessa minha patroa. Depois dessas doenças aí ela me afastou, porque ela já é idosa e eu também sou de risco. Mas para mim não viver só pedindo, nós começamos a frequentar isso aí”, explica Lúcia. A mulher ajudava a sustentar filhos, netos e bisnetos com o dinheiro que conseguia lavando roupas. Com a pandemia e o afastamento do emprego, o alimento da família precisava vir de outra fonte.

Além dela, outras pessoas da família acompanhavam a busca por comida nos fundos do supermercado. “Quando a gente via que não tinha nada dentro de casa, era o jeito de a gente ir. Era minha filha, o marido dela, o meu marido, todos quatro parado dentro de casa”.

Os alimentos encontrados nem sempre conseguiam ser limpos e preparados. “Era café misturado com sabão, com detergente, com kiboa. Eles derramavam os danones pra gente não pegar. O que dava pra nós aproveitar, nós aproveitava”. Lúcia conta que para limpar algum cheiro ruim das carnes, escaldava os pedaços, tentava lavá-los, mas às vezes não tinha jeito. “Bota pro cachorro que não presta pra gente comer”, resolvia.

Por ser diabética, manter a saúde também é uma das principais preocupações de Lúcia. Com a ajuda que vem recebendo por meio de doações e dos filhos que já conseguiram voltar ao mercado de trabalho, Lúcia tem conseguido comer arroz integral e diz que deixou de comer pães. Ainda assim, muito da dieta passada pelas médicas que acompanham o caso dela no posto de saúde continua inviável para sua situação de vida atual.

“A doutora passou pra eu comer só peito de frango, filé de peixe, só que as coisas caríssimas, como é que eu ia comprar essas coisas? Cansei de falar pra ela que eu não tenho condição de comprar nada disso”, diz.

“Se eu tivesse um meio de vida, não voltava não”

Sandra Maria de Freitas Anjo, 57, foi outra das mulheres que apareceram no vídeo. Ela conta que nem sempre tantas pessoas ao mesmo tempo tentavam pegar as sobras do supermercado como foi mostrado nas imagens. Segundo ela, a situação piorou durante a pandemia. Porém mesmo antes do coronavírus e da perda dos trabalhos que conseguia como diarista, Sandra já buscava os alimentos em diversos supermercados para alimentar os seis filhos durante anos.

 Sandra Maria de Freitas Anjo, 57 anos
Sandra Maria de Freitas Anjo, 57 anos (Foto: Yago Albuquerque / Especial para o Povo 

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