terça-feira, 6 de novembro de 2018

Berço da cultura, o Cariri é uma grande vitrine de tradições





Região recebe todo ano, em novembro, o intercâmbio cultural da Mostra Sesc Cariri

Novembro inicia com um célebre dia 5. Quando se comemora a alma de um povo, suas raízes e identidade. É marcado como Dia Nacional da Cultura e ainda Dia da Língua Portuguesa e do Cinema Brasileiro. Uma comemoração tripla que abraça todas as manifestações do teatro, da dança, do cinema, do circo, da literatura e das artes visuais.

Berço de senhores e senhoras com raízes profundas de conhecimentos e memórias que carregam a cultura de um povo, o Cariri cearense é uma das maiores vitrines de manifestações culturais e tradicionais do Estado. Uma região que vê a ancestralidade se expandir e ser preservada com o passar do tempo, sendo resistente e tesouro vivo. Durante o mês de novembro, de 16 a 20, a região recebe a Mostra Sesc Cariri de Culturas, um evento que acolhe arte e cultura popular de cada canto do País, em 26 municípios, sem deixar de lado as expressões artísticas da região.

Lugar de Memória
É na tradição que a cultura encontra suporte. Do latim traditio, tradição significa "entregar" ou "passar adiante". Como uma herança imaterial, o legado de saberes e fazeres é transmitido de geração em geração, proporcionando a continuidade da cultura no Cariri cearense. Desde sua primeira edição, em 1999, a Mostra Sesc Cariri tem em sua essência a valorização das tradições, abrindo espaço para cores, sotaques e os encantos dos grupos de tradição do sul do Ceará. De lá pra cá, todo lugar vira palco para os brincantes de maracatu, coco, reisados, maneiro pau e bandas cabaçais se apresentarem.

O som marcante dos tambores e pífanos criam a atmosfera que o público aguarda, tradicionalmente, pela Mostra, segundo a técnica de cultura do Sesc Crato, Suzana Carneiro. "A participação dos Mestres é entendida com verdadeira reverência, os grupos de tradição no cortejo sinalizam para a população que a Mostra está verdadeiramente iniciando e as ruas do comércio são tomadas pelos brincantes", relata. A Mostra Sesc Cariri de Culturas é a culminância das ações de valorização artística e educativa promovidas pelo Sesc durante todo o ano em suas unidades, sendo palco e suporte para as mais diversas manifestações. 

Como símbolo de integração cultural, em sua vigésima edição, a Mostra conta com 108 grupos de tradição e traz de volta as famosas Terreiradas, que são o encontro de grupos na casa/terreiro dos Mestres. Suzana explica que durante três dias, grupos se encontram para festejar e brincar junto às comunidades "em ações descentralizadas, ressaltando a importância da preservação dos terreiros como locais de cultura viva e latente, onde a manifestação cultural pode ser vista de forma orgânica e prioritária na sua essência".  

Através de cada edição, Suzana Carneiro nota que o espaço/tempo é feito e refeito, e a região tem a possibilidade de imprimir sua personalidade pelas cores e ritmos, pelas manifestações locais, pela forma como sabe receber quem está chegando. A técnica de cultura define a Mostra Sesc Cariri como um festival com Alma, uma vez que “consegue ir de encontro com o outro de forma plural”. Uma união entre o que é tradição e o que é contemporâneo.

Museus Orgânicos
Além das festividades da Mostra Sesc Cariri, o contato com a história dos Mestres da Cultura se tornou uma possibilidade atemporal a partir da criação dos Museus Orgânicos dos Mestres de Cultura Tradicional do Cariri. O projeto - parceria do Sesc, braço social do Sistema Fecomércio Ceará e Fundação Casa Grande - visa fortalecer as raízes culturais, transformando as casas dos Mestres em espaços de visitação e troca de vivências. Objetos pessoais, fotografias, vestimentas, instrumentos são alguns dos elementos que compõem os museus que irão homenagear 16 mestres da cultura.



Guardiões da Tradição
O Sesc é precursor no reconhecimento daqueles que compartilham o saber pela tradição oral. Em sua primeira edição, quando ainda era Mostra Sesc Cariri de Teatro já contou com a participação de quatros símbolos de Cultura: Mestre Aldenir que comanda três dos mais tradicionais grupos de reisados do Cariri; Mestre Cirilo da tradicional dança coletiva de Maneiro Pau; Irmãos Aniceto com os instrumentos de sopro e percussão da Banda Cabaçal; e Mestra Zulene Galdino que criou o grupo de dança Cintura Fina.

Eles fazem parte da história da Mostra antes mesmo de receberem o título de Mestre da Cultura Tradicional Popular, conferido pelo Governo do Ceará, por meio da Secretaria de Cultura, a partir das Leis 13.351/2003 e 13.842/2006.

Brincante de reisado desde 1955, Mestre Aldenir, aprendeu as embaixadas com um tio que era “fanático” pela festa dos Reis. A paixão virou uma missão de vida e ele conta que, da cidade do Crato, já ensinou muita gente, inclusive outros mestres. “É uma coisa que eu sonho com o reisado. Tenho muita tristeza que não faço mais como antes, mas tenho neto meu, filho meu, e quero ensinar mais ainda”, que se define, aos 85 anos, um eterno brincante.

Em uma relação com a Mostra Sesc Cariri que já perpassa as 20 edições, o Mestre percebe o valor do encontro no sorriso dos mais novos. “É um evento muito importante para a tradição, todo mundo fica muito feliz, as crianças que tão começando ficam muito alegres porque são bem recebidas”, relata.

O amor pela cultura popular também move a vida da Mestra Zulene. Entre quadrilhas, maneiro pau e cintura fina, ela é uma defensora da tradição e não se vê fazendo outra coisa. “Não quero que nossa tradição se acabe, ensino os meninos aqui para eles darem continuidade”. Ela fala com orgulho de suas participações nos eventos do Sesc “muita gente não entende de cultura popular, da nossa tradição, mas o Sesc tem essa atenção e continua sempre convidando a gente pra participar”, explica.

Para a Mestra da cultura, a relevância da tradição está na simplicidade “que vem da raiz, acho que vem de Deus que é simples”. Ela tem a Mostra Sesc como um momento de conhecer novas pessoas e estar perto de outras culturas, e recorda com saudosismo as terreiradas e festas na Praça da Sé.



Tradicional Novembro
"Se pensarmos que tradição é tudo que nos atravessa, que transmite, entrega, transfere a partir da experiência, a Mostra nesses 19 anos vem cumprindo seu papel", conta Suzana Carneiro. Com vinte edições, a Mostra Sesc Cariri já se tornou uma tradição para os apreciadores de arte, música, dança e festividades populares. Tendo como ponto de partida a cidade do Crato, em sua primeira edição, a Mostra se consolidou como um dos maiores encontros de difusão de manifestações artísticas e culturais no Brasil, alcançando 26 municípios do cariri cearense.

Para a técnica de Cultura, novembro entrou no calendário como o mês do encontro de diversas linguagens artísticas, unindo raízes culturais com a modernidade de todas as regiões do país. "A Mostra Sesc Cariri tem sua importância para a região e torna-se tradicional no calendário da população local e circunvizinhas, bem como, de artistas de todo a país, pois é um festival com Alma", conta.

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