O sol forte não espantou os fiéis da 19ª Romaria da Santa Cruz do Deserto. Segundo a organização, cerca de 3.000 pessoas estiveram presentes na celebração presidida pelo Padre Vileci Vidal na comunidade histórica do Caldeirão, localizada a 33 km da sede do município.
Anualmente, em setembro – mês da Santa Cruz, a igreja católica realiza a festa com apoio da Prefeitura e, este ano, abordou o tema “Camponeses em defesa da vida e dos direitos”.
Durante a homilia, o celebrante destacou a importância da romaria para os movimentos sociais em defesa da terra, dos camponeses, das mulheres, dos quilombolas e dos indígenas. Segundo o Padre Vileci, o tema da romaria faz ligação com o lema da campanha da fraternidade: “Fraternidade e superação da violência”, definida pela Conferência Nacional dos Bispos (CNBB).
Estiveram presentes no Caldeirão, o prefeito Zé Ailton Brasil, o vice-prefeito e Secretário de Saúde, André Barreto, secretários municipais e adjuntos, vereadores, além de técnicos municipais.
Além de disponibilizar equipes da Secretaria de Saúde, com um ambulância no local, da Guarda Municipal, a equipe do Departamento Municipal de Trânsito (Demutran) organizou o fluxo no local e, ainda, a Prefeitura fez uma recuperação na estrada que dá acesso ao povoado.
As secretarias de Cultura e Turismo realizaram toda a articulação dentro da organização da romaria, lideradas pelos secretários Wilton Dedê e Luís Carlos Saraiva, respectivamente. Os dois destacaram a importância histórica e turística do evento, já fazendo parte do calendário da região.
A romaria do Caldeirão da Santa Cruz foi criada no ano de 2000, para celebrar a passagem do milênio pela Pastoral da Terra junto com as comunidades eclesiais de base, e também para resgatar a história da comunidade que, de certa forma, foi abafada ao longo dos anos. Atualmente, muitos moradores de comunidades do entorno e, até mesmo de cidades vizinhas, como Juazeiro do Norte e Caririaçu, peregrinam até lá.
Toda essa história local mobiliza historiadores e gestores para que haja o tombamento do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A nível estadual isso foi conquistado. No entanto, o órgão vinculado ao Ministério da Cultura optou pelo não reconhecimento em âmbito federal.
“A Secult está reunindo documento para reabrir esse processo. Já visitei duas vezes o IPHAN e tive a orientação para isso”, antecipa o secretário de Cultura do Crato, Wilton Dedê. Por outro lado, desde o início do ano passado, o local tem sido estudado para se tornar uma Unidade de Conservação e, em seguida, um geossítio administrado pelo Geopark Araripe.
O Caldeirão
Localizada a 33 km da sede do Município do Crato, o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto fica entre os distritos de Monte Alverne e Dom Quintino. Lá, foi abrigo de centenas de flagelados da seca, devotos do Padre Cícero, que encontraram na comunidade, alimentação, trabalho e refúgio espiritual. Sob a liderança do beato José Lourenço, cerca de 1.700 pessoas moraram ali, dividindo tarefas, fabricando instrumentos de trabalho, roupas e produzindo alimento.
Temendo que a comunidade se tornasse um movimento messiânico, o Governo Federal, em 1937, ordenou que as Forças Armadas e a Polícia Militar do Ceará invadissem o local. Alguns moradores do Caldeirão da Santa Cruz foram mortos e os sobreviventes foram expulsos de suas terras. O beato José Lourenço e seus seguidores fugiram. Até hoje, muitos corpos não foram encontrados e não há nenhum registro oficial do número exato de vítimas.
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