terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Como a região do Cariri vai pesar na disputa eleitoral no Ceará em 2022


Estátua do Padre Cícero
Legenda: Juazeiro do Norte, onde fica a estátua de Padre Cícero, está na rota de diferentes candidatos, de vereadores a presidentes da República
Foto: Presidência da República

Na rota de diferentes políticos, a região tem dois dos dez maiores colégios eleitorais do Ceará


A disputa pela sucessão no Ceará tende a seguir um ritmo próprio no Cariri, dada a relevância política e a quantidade do eleitorado. Além de ser o berço político do governador Camilo Santana (PT), o lugar detém dois dos dez maiores colégios eleitorais no Estado (Juazeiro do Norte e Crato), um diferencial que, nos últimos meses, estimulou a oposição a formar base e se fortalecer com aliados.

Por ser atrativo eleitoralmente, o Cariri deverá, na análise de especialistas, ser um ponto chave na briga pelo comando do Executivo cearense. Os políticos estão de olho na base eleitoral significativa da região, que, de acordo com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE), soma 707.444 mil eleitores, considerando a região de planejamento do Cariri.

As recentes obras do Governo do Estado na região, a ampla aliança da base governista, a localização geográfica e até a tradição religiosa transformam o Cariri em uma espécie de campo de batalha político, com peso eleitoral decisivo nas Eleições 2022.  

Além das três principais cidades: Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, o Cariri tem ainda a Região Metropolitana formada por Farias Brito, Missão Velha, Jardim, Caririaçu, Nova Olinda e Santana do Cariri.

Desde 2015, o Governo do Estado considera a região de planejamento do Cariri com uma amplitude maior de municípios, somados Abaiara, Altaneira, Antonina do Norte, Araripe, Assaré, Aurora, Barro, Brejo Santo, Campos Sales, Granjeiro, Jardim, Jati, Lavras da Mangabeira, Mauriti, Milagres, Penaforte, Porteiras, Potengi, Salitre, Tarrafas e Várzea Alegre.

OBRAS DO GOVERNO NA TERRA NATAL

Até o final de março estão previstas as inaugurações do Teleférico do Horto e do estádio Romeirão em Juazeiro do Norte, principal cidade da região. Para o cientista político Raulino Pessoa, a entrega de obras no fim do mandato é um cálculo político e serve para consolidar a base.  

Cotado para ser candidato ao Senado Federal, Camilo Santana deverá deverá deixar o cargo até o final de março, entregando a função para a vice-governadora Izolda Cela (PDT).  

“Em termos de gestão pública, o governo criou uma série de políticas no Cariri; Crato tem o Curso de Medicina, em Barbalha tem o Teleférico Essas obras são ações importantes e estão sendo estreadas agora no final do mandato”, diz o professor.

Camilo com aliados no teleférico de Barbalha
Legenda: Camilo com aliados no teleférico de Barbalha, inaugurado no final do ano passado
Foto: Divulgação

BASE ELEITORAL E DISPUTA EM 2014

Além de ser uma base eleitoral fruto de um extenso arco de alianças construído ao longo de sete anos, a Região do Cariri é também o local onde o atual chefe do Executivo deu os primeiros passos na política.  

Natural de Crato, Camilo Santana tem registro eleitoral em Barbalha, onde em 2000 e 2004 foi candidato a prefeito. Em 2006, coordenou a campanha vitoriosa de Cid Gomes ao governo na região.  

Na primeira eleição para governador, em 2014, Camilo disputou com Eunício Oliveira (MDB) que é natural de Lavras da Mangabeira, também no Cariri. Foi o início de um histórico de vitórias do petista, no qual a região se mostrou relevante.  

Em Juazeiro, por exemplo, Camilo angariou 91.965 votos em 2014, diante de 32.303 mil de Eunício. Em Crato, onde nasceu, o petista teve 55.040 mil votos e Eunício 11.205. A votação em Barbalha seguiu o mesmo fluxo: 21.030 para Camilo e 11.075 para Eunício Oliveira.

OPOSIÇÃO INTERESSADA EM VIRAR VOTO 

Na corrida de 2022, a oposição deverá tentar virar o jogo no Cariri, e isso, de acordo com especialistas, já está sendo traçado como estratégia ao passo que nomes importantes da base oposicionista têm agenda recorrente no Cariri.  

“O político tem uma capacidade de mudança, como um camaleão. Juazeiro, por exemplo, tem um peso muito grande no ponto de vista de números, e também um peso simbólico baseado na religiosidade”, avalia o professor do Curso de Ciências Sociais da Universidade Regional do Cariri (URCA), Roberto Siebra

Ele observa ainda que deputados estaduais e federais com representação no Cariri são, via de regra, suscetíveis a transitar entre base e oposição, de acordo com um cálculo político feito mais próximos das eleições.  


No final do ano passado, o candidato da oposição ao Governo do Estado, o deputado federal Capitão Wagner, esteve em diferentes municípios da região e teve encontro com lideranças empresariais e políticas importantes no Cariri. 

Ele também tem cumprido agendas junto ao presidente Jair Bolsonaro no entorno. No início deste mês, Wagner foi o primeiro a discursar na cerimônia de liberação das águas da transposição para o Cinturão das Águas, em Jati, ao lado do presidente.


PARLAMENTARES ESTREANTES   

É nessa perspectiva que o especialista avalia que ao menos cinco deputados têm brecha de atuação. 

Os estaduais Davi de Raimundão (MDB), Nelinho Freitas (PSDB), Fernando Santana (PT) e Guilherme Landim (PDT), além do deputado federal Pedro Bezerra (PTB) têm algo em comum, além de todos serem bem votados na região.  

Eles são deputados “de primeira viagem” e, apesar de estarem na base de Camilo Santana, poderão, de acordo com cálculo de especialistas, migrar para um grupo diferente.  

Nesse contexto, vale a experiência e a ligação que as respectivas famílias têm com a política, avalia ainda o professor Roberto Siebra.  

Montagem com deputados cearenses do Cariri
Legenda: Deputados com força na região do Cariri que estão no primeiro mandato: Pedro Bezerra, federal; Guilherme Landim, Davi de Raimundão, Fernando Santana e Nelinho Freitas, estaduais
Foto: Reprodução/Câmara dos Deputados/AL-

Davi é filho do ex-prefeito de Juazeiro e ex-deputado Raimundo Macedo, que é próximo de Eunício Oliveira. Já Nelinho é filho de Raimundo Cordeiro de Freitas, empresário e ex-prefeito de Russas, cidade do Baixo Jaguaribe.  

Já Guilherme é filho do falecido deputado Wellington Landim e tem sua mãe como prefeita de Brejo Santo, no Cariri, Gislaine Landim. Enquanto isso, Pedro Bezerra é filho do ex-prefeito de Juazeiro e ex-deputado Arnon Bezerra (PTB), que perdeu a reeleição no município no pleito de 2020.  


JUAZEIRO DO NORTE 

Juazeiro é atrativo por diversos fatores. Como avaliam Roberto Siebra e Raulino Pessoa, além da cientista política Carla Michele, professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE), até a influência religiosa na figura do Padre Cícero serve como cálculo. 

A Colina do Horto, onde está a estátua do primeiro prefeito da cidade e considerado um santo popular, nos últimos meses, já foi visitada pelo ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) e pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).  


No final do ano passado, o deputado Capitão Wagner (Pros) iniciou uma investida na região. Após lançar pré-candidatura ao governo pela oposição, o parlamentar passou a visitar o Cariri, de olho no eleitorado.  

Para Carla Michele, cidades grandes como Juazeiro têm o poder de influenciar também o voto de pequenos municípios ao redor.  A movimentação nas três maiores cidades tem impactos nas menores, como Nova Olinda e Caririaçu.


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Montagem: Gledson Bezerra e Sérgio Moro / Bolsonaro
Legenda: O prefeito de Juazeiro do Norte Glêdson Bezerra (Podemos) dividiu palanque com Bolsonaro e Sérgio Moro recentemente
Foto: Reprodução Instagram / Thiago Gadelha

RECEPÇÃO A BOLSONARO E MORO  

Nas recentes passagens por Juazeiro do Norte, o presidente Bolsonaro (PL) e o seu ex-ministro Sérgio Moro (Podemos)


receberam das mãos do prefeito Glêdson Bezerra, também do Podemos, uma estátua do Padre Cícero.  

O gesto é comum na tradição do município quando um Presidente da República visita a cidade. O prefeito, no entanto, não se coloca formalmente na oposição estadual e, ao mesmo tempo, divide palanque com dois adversários políticos que representam a direita e que devem disputar as urnas em outubro.  

Roberto Siebra avalia, por fim, que a indefinição, nesse caso, faz parte de uma espécie de estratégia de sobrevivência. 

"Glêdson não quer brigar com o detentor de poder no Ceará; ele já demonstrou várias vezes apreço pelo presidente Bolsonaro, vamos aguardar, porque o mimetismo pode funcionar e isso poderá virar. O que vai definir é a situação do Jair Bolsonaro e os benefícios que pode ter por apoiar o grupo", finaliza o espeicialista.

Já para Raulino, a postura do prefeito de Juazeiro reflete o pragmatismo. 

"Se o ex-presidente Lula (com mandato) fosse à região Glêdson não se oporia em recebê-lo. O governismo é a cara da política estadual cearense! esses grupos dependem de articulação com o governo", sintetiza o especialista.


CRATO 

Com 87.430 eleitores, o Crato é segunda maior cidade do Cariri e tem tradição de disputa acirrada entre base e oposição. O grupo governista tem como aliado o prefeito Zé Ailton Brasil (PT), que exerce o segundo mandato consecutivo.  

No município, no entanto, há atuação constante do grupo oposicionista, que tem como um dos representantes o médico Dr. Aloísio (Pros), candidato a prefeito derrotado em 2020. 

Em recente visita à região, Capitão Wagner foi recepcionado por Aloísio e pelo empresário Gilmar Bender, ex-aliado dos irmãos Ferreira Gomes, e agora integrante do grupo da oposição. 


BARBALHA

A terceira cidade que forma o triângulo do Crajubar também deve ser palco de disputa acirrada também entre base e oposição. Nas eleições de 2020, o atual prefeito Dr. Guilherme (PDT) derrotou o então gestor Argemiro Sampaio (PSDB). A diferença, no entanto, foi de menos de três mil votos.

Argemiro Sampaio deverá ser candidato à deputado estadual e tem fortalecido a alinça com Capitão Wagner.

Outro ponto forte na disputa é o deputado estadual Fernando Santana. Mesmo no primeiro mandato, já é vice-presidente da Assembleia Legislativa.


Por Diário do Nordeste 

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