Brasília – Por um placar de 6 x 0, o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria, nesta terça-feira (9), pela manutenção da decisão liminar da ministra Rosa Weber que suspendeu, na última sexta-feira (5), o pagamento das emendas parlamentares de relator, que compõem o chamado “orçamento secreto”. Acompanharam a decisão, os ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Alexandre de Moraes.
Ainda faltam votar Kassio Nunes Marques, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Luiz Fux. O julgamento é realizado no plenário virtual — em que cada ministro apresenta o voto por escrito no sistema interno — e termina às 23h59 desta quarta-feira (10). Até lá, qualquer um que não votou pode levar a discussão para o plenário físico. Nesse caso, o julgamento recomeça do zero com debate oral entre os 10 ministros.
As emendas de relator são verbas direcionadas por deputados e senadores às suas bases eleitorais, mas cuja liberação é negociada junto ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e ao ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. A reserva e liberação dos recursos nos ministérios são feitas de modo informal, por meio de ofícios ou mensagens eletrônicas, o que dificulta o acompanhamento e fiscalização. Neste ano, as emendas de relator somam R$ 16,8 bilhões no Orçamento.
As emendas de relator foram introduzidas em 2019, e tem desagradado os parlamentares da oposição que acusam o governo de utilizar as emendas para “compra de votos” das matérias de interesse da agenda do governo.
A suspensão foi determinada por falta de transparência: o sistema público de execução orçamentária não informa qual parlamentar indicou o montante e qual o estado ou município beneficiado. No sistema, todas elas aparecem em nome do relator-geral do Orçamento (no caso de 2021, o senador Marcio Bittar, do MDB-AC) e não em nome do deputado ou senador interessado.
Na prática, o orçamento secreto é usado pelo governo e pelo Centrão para atender aos parlamentares que votam no Congresso conforme seus interesses. Elas foram usadas, por exemplo, antes da votação, na semana passada, que aprovou, em 1º turno, a PEC dos Precatórios na Câmara. A proposta parcela o pagamento de dívidas do governo federal e muda o cálculo do teto de gastos para abrir, no ano que vem, um espaço fiscal adicional de cerca de R$ 90 bilhões. Os recursos extras devem ser usados para bancar o novo programa social do governo, Auxílio Brasil, de R$ 400 por família, além do aumento do fundo eleitoral e do pagamento de mais emendas parlamentares de relator.
As ações contra esse tipo de liberação de dinheiro público foram apresentadas pelos partidos Cidadania, PSB e PSOL, que apontaram violação ao princípio constitucional da publicidade dos atos públicos e ao poder de fiscalização da sociedade sobre o destino da verba.
Na sexta (5), Rosa Weber determinou a suspensão do pagamento até o julgamento de mérito das ações, que vai decidir se elas são ou não constitucionais, o que ainda não tem data para ocorrer. Ela também determinou que, em 30 dias, o governo publique todos os pedidos de liberação das emendas de relator feitos até agora e que passe a registrar em sistema público as futuras demandas, de modo que possam ser comparadas, rastreadas e ainda acompanhadas em cada fase da liberação do recurso. Essa parte da liminar também foi mantida pela maioria dos ministros no julgamento virtual.
“Mostra-se em tudo incompatível com a forma republicana e o regime democrático de governo a validação de práticas institucionais adotadas no âmbito administrativo ou legislativo que, estabelecidas à margem do direito e da lei, promovam segredo injustificado sobre os atos pertinentes à arrecadação de receitas, efetuação de despesas e destinação dos recursos públicos, com evidente prejuízo do acesso da população em geral e das entidades de controle social aos meios e instrumentos necessários ao acompanhamento e à fiscalização da gestão financeira do Estado”, escreveu Rosa Weber na liminar e em seu voto.

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