sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Entenda como a crise econômica da China pode afetar o Ceará

Porto do Pecém visto do alto
Legenda: Exportações e importações podem ser impactadas
Foto: Carlos Marlon

O risco de contágio da crise encarada pela segunda maior potência global também preocupa o mercado cearense

Maior parceiro comercial do Brasil, a China enfrenta incertezas econômicas: o mercado imobiliário está em crise, as exportações começaram a cair, o desemprego entre os jovens aumentou e empresas e governo estão endividados. Nesse cenário, líderes mundiais e investidores estão temerosos com os possíveis impactos da desaceleração da 2ª maior potência global.

O país asiático já encara estresse financeiro desde abril último. Contudo, em agosto, a situação se agravou, quando a Country Garden, grande incorporadora chinesa, anunciou dificuldades para honrar dívida bilionária. Na esteira da crise, a Zhongrong International Trust, gigante do setor bancário, não conseguiu pagar investidores. 

A situação reforçou o alerta de risco de contágio na economia global. No Brasil, os efeitos dessa turbulência podem chegar por meio da redução da demanda das vendas externas e da oferta de produtos, entre outros. 


IMPACTOS NA INDÚSTRIA E NA ECONOMIA CEARENSE 

O professor universitário e conselheiro regional de economia (Corecon), Wandemberg Almeida, destaca que o Ceará começou a fortalecer o comércio internacional e explorar mercados, mas ainda depende da China para adquirir matéria-prima para o processo produtivo industrial.

“Um grande parceiro entrando em crise compromete lá, mas atrapalha os nossos investimentos no Estado”, observa. 


“Recentemente, o governador Elmano de Freitas foi à China para novos negócios, parcerias, melhorar a matriz energética e trazer novos itens para contribuir com a nossa expansão. A falta de insumos, com a baixa produção, traria impactos ruins”, completa. 

Para o economista, a instabilidade no país asiático pode prejudicar a balança comercial cearense (diferença entre as exportações e as importações), além de impedir o avanço tecnológico da indústria local. “O Ceará está crescendo por meio de boas parcerias comerciais e acaba sentido esse baque por conta dessa necessidade de ter um parceiro robusto”, explana. 

“O Estado vem querendo fechar novas negociações, melhorar a infraestrutura e sua matriz energética, tem a questão do hidrogênio verde, de placa de energias solares e mais equipamentos. Esse comércio produzimos aqui e exportamos para a China. Portanto, tudo isso acaba influenciando”, enumera.

Nesse contexto, toda a economia cearense seria afetada, com reflexos na geração de empregos, modernização das indústrias, infraestrutura e mudança do comportamento do consumidor para atender às necessidades. Se a crise não for controlada, estima, os efeitos negativos já poderão ser notados no fim deste ano, mas serão mais intensos a partir de 2024. 

A gerente do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado (Fiec), Karina Frota, reitera que, se a situação se acentuar, “o impacto será visível para o Ceará, Brasil e para o mundo”.

“Se o consumo reduzir, a busca por produtos também sofrerá redução. Isso ocorrendo, o país asiático poderá importar menos. No presente, é visível a cautela de investidores e a especulação sobre possíveis intercorrências financeiras”, analisa, acrescentando que a consequência seria percebida por meio de uma cadeia de eventos. 

IMPACTOS NO SETOR IMOBILIÁRIO DO CEARÁ

No Ceará, o abastecimento do ferro também poderia ser pressionado pela crise na China. O produto é muito utilizado nas construções e, consequentemente, importado pelo mercado local. 

Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon), Patriolino Dias, a escassez ou aumento no preço dessa matéria-prima elevaria a despesa das obras, afetando a rentabilidade dos empreendimentos e possivelmente impactando no valor dos imóveis.

“Os impactos potenciais podem ser percebidos em médio e longo prazos. As flutuações nos preços do minério de ferro podem levar algum tempo para refletir nos custos de construção e nos preços dos imóveis”, avalia.

Para minimizar os efeitos adversos, explica, é fundamental que o setor se mantenha ágil e adaptável. Patriolino aponta como medidas necessárias:

  • Buscar fontes alternativas de minério de ferro para reduzir a dependência das importações chinesas;
  • Adotar práticas de gestão eficientes para controlar custos, maximizar a produtividade e minimizar ao máximo os riscos;
  • Acompanhar de perto o mercado global e tomar decisões estratégicas com base nessas informações.

“O setor imobiliário do Ceará tem mostrado resiliência e adaptabilidade ao longo dos anos. Continuamos otimistas em relação ao crescimento do mercado até o fim deste ano, com o aumento da demanda por moradias e investimentos em infraestrutura”, diz.

“No entanto, é importante ressaltar que a situação econômica é dinâmica, e devemos permanecer vigilantes e ágeis para enfrentar quaisquer desafios que possam surgir”, finaliza. 


Escrito por Bruna Damasceno bruna.damasceno@svm.com.br 
Para o Diário do Nordeste 

Nenhum comentário:

Postar um comentário