quarta-feira, 10 de junho de 2020

Perda de patrocínio público impacta grandes clubes da Capital


 por Vladimir Marques 

Falta do valor, suspenso na última sexta-feira após recomendação dos Ministérios Público Federal e Estadual, pesa nos planejamentos de Ceará, Fortaleza e Ferroviário, que se esforçam para manter finanças em dia

Na última sexta-feira (5), Ceará, Fortaleza e Ferroviário tiveram seus contratos de patrocínio com a Prefeitura de Fortaleza suspensos, após publicação, no Diário Oficial do Município, do termo de distrato de convênio. A decisão atendeu a orientação do Ministério Público Federal e do Ministério Público do Estado do Ceará. Os integrantes do MPs recomendaram que a Prefeitura "se abstenha de executar despesas referentes a patrocínios de clubes de futebol da Capital, até o fim do exercício financeiro de 2020, considerando as consequências decorrentes da pandemia do novo coronavírus com relação à economia, de modo a atender aos princípios da razoabilidade, proporcionalidade, eficiência, economicidade e interesse público".

A Prefeitura de Fortaleza patrocinava os três grandes clubes e o acordo para esta temporada havia sido renovado. Em nota, a Prefeitura de Fortaleza afirmou que seguiu a decisão do Ministério Público Estadual e Federal. A decisão é mais um revés financeiro aos clubes, que conviveram ao longo da pandemia com cortes de receitas pela suspensão dos campeonatos e prejuízos financeiros.

O Diário do Nordeste apurou que o valor dos patrocínios chegavam próximos de R$ 400 mil para o Ferroviário, integrante da Série C do Campeonato Brasileiro, e R$ 1,3 milhão dividido igualmente entre Ceará e Fortaleza, que disputam a Série A.

Com folhas salariais equivalentes, o Vovô com R$ 3 milhões e o Leão com R$ 2,5 milhões, o patrocínio da Prefeitura representaria perto de 50% da folha.

Já para o Ferroviário, o impacto é ainda maior, segundo presidente Newton Filho. O valor é quase uma folha e meia de pagamento do clube. "O Ferroviário está em uma situação muito difícil, embora seja um clube equilibrado. O patrocínio da Prefeitura fazia parte do planejamento do clube e era uma grande parcela do nosso financeiro, representando quase uma folha e meia de pagamento. Para quem já está há quatro meses parado, com muitas despesas e prejuízos, perder esse valor é quase fatal para o clube", afirmou o mandatário coral.

O presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, admitiu que o corte é muito prejudicial ao clube. "Para gente é muito ruim, contávamos com este patrocínio para nosso planejamento. Acho que deveria ser honrado o que se tinha combinado, pois estava previsto. O futebol traz recursos para a cidade. É um dinheiro que não impacta na saúde, no combate à pandemia", disse ele.

Procurado pelo Diário do Nordeste, o presidente do Ceará, Robinson de Castro, preferiu não se manifestar sobre a suspensão do patrocínio da Prefeitura.

Os presidentes de Fortaleza e Ferroviário destacaram ainda que o futebol faz parte da economia e tem uma função social muito importante. "O futebol gera emprego, renda, faz parte da economia, tem um impacto social. Os clubes geram centenas de empregos, diretos e indiretos", disse Newton.

Marcelo Paz foi na mesma linha de raciocínio. "Os clubes trazem muitos recursos para a cidade através do turismo. O fato de estarem na Série A faz com que as cotas de televisão venham pra cá, para Fortaleza. O dinheiro circula aqui, nos bares, no comércio, nos restaurantes. O clube tem a capacidade de promover a cidade e aquecer a economia", destacou.

Esforço

Mesmo com uma perda de receita tão significativa, os três clubes têm mantido os salários em dia, resultado de uma solidez administrativa.

"Nossos salários estão em dia, mas é preocupante pois já contávamos com o patrocínio que estava programado. O Ferroviário tem ajuda de investidores, mas eles também sentiram o impacto da crise. Outra receita que nos ajudou bastante foi o auxílio emergencial da CBF para os clubes da Série C", finalizou Newton.

Marcelo Paz também informou que os salários no Leão estão em dia, mas que a dificuldade continuará.

"O Fortaleza está em dia, com muito sacrifício e criatividade, em busca de novas receitas, negociações com jogadores, fornecedores e vamos seguindo. Voltar aos treinos também requer investimentos, em insumos, equipamentos e testes. A dificuldade continuará mesmo com o início dos treinos e dos jogos", disse ele,

O diretor financeiro do Ceará, João Paulo Silva, acredita que o pior já tenha passado e agora é trabalhar para deixar o clube mais equilibrado. "Todos os clubes sofreram, perderam receitas. Deixamos de receber cerca de 12 milhões de receitas. Mas o clube está bem alavancado, com crédito no mercado e realizamos ações para honrar todos os nossos compromissos, com todos os funcionários em dia. Acredito que o pior já passou, abril foi muito difícil. Agora é manter a responsabilidade e continuar gerindo o Ceará com os pés no chão".

Crédito

Na última segunda-feira (8), a CBF anunciou uma linha de crédito aos clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, que deve ser usada por Ceará e por Fortaleza.

O valor pode chegar até R$ 5 milhões para cada clube, a juro zero. Os valores tem como garantia os contratos de direitos de transmissão e os prêmios por desempenho nos campeonatos.

"Quem tiver pra tirar agora, pode tirar. A diferença é o juro zero. É provável que o Ceará vá usar. O problema é devolver ainda neste ano, que está comprometido", afirmou Robinson de Castro, presidente do Ceará, que analisa com cautela o uso desse recurso.

A alternativa do empréstimo é vista como positiva para o presidente tricolor, Marcelo Paz. "A princípio temos a intenção de usar nesse momento, sobretudo com essas perdas, como a da prefeitura. Importante esclarecer que o dinheiro não é novo, não é algo a mais, é algo adiantado. O lado bom é o juro zero", esclarece o mandatário.

Legenda: Marcelo Paz lamenta impacto no planejamento financeiro do clube
Foto: RODRIGO GADELHA

Fonte: Diário do Nordeste 

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