sexta-feira, 26 de julho de 2024

Fortaleza tem 23 mil crianças na fila para tratamento de transtornos como autismo na rede municipal

Legenda: Acesso a terapias de estimulação precoce é indispensável para pessoas com autismo ou outros transtornos de desenvolvimento
Foto: Shutterstock


Do total, pelo menos 1.500 são diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA)



Conseguir tratamento para transtornos neurológicos e de desenvolvimento na rede pública de saúde tem sido exercício de paciência para famílias de Fortaleza. Neste mês, 23.774 crianças com diversas deficiências aguardam na fila de triagem para terapias.

Do total, cerca de 1.500 são diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). As demais têm outras alterações neuropsicomotoras ou ainda estão sem laudo. Todas esperam por consulta inicial com profissionais para saber que tipo de terapias devem receber.

As informações são de Luciana Passos, coordenadora das Redes de Atenção Primária e Psicossocial (RAPS) de Fortaleza, dadas em entrevista ao Diário do Nordeste e também durante audiência pública do Ministério Público do Ceará (MPCE) sobre os déficits na assistência ao TEA no Estado, na segunda-feira (22).

Luciana explica que essas milhares de crianças já passaram por consulta com neurologista e receberam encaminhamento para a triagem, feita por especialistas como fonoaudiólogo, psicólogo e terapeuta ocupacional.

“Elas, então, avaliam e determinam o tipo de terapia. É um grande entrave do sistema, mas o mais importante é que tenham celeridade para começar (o tratamento)”, destaca a coordenadora, que é médica de família e comunidade.

Segundo ela, “é preciso trabalhar o aumento da oferta” de locais de reabilitação para TEA e outros transtornos, disponibilizada hoje em equipamentos conveniados e em policlínicas de Fortaleza.

Trabalhamos nas policlínicas extrapolando a capacidade delas de reabilitação, e sabendo que (pessoas com) TEA ficam por muito tempo nas terapias, e isso impede entradas de novos pacientes.
Luciana Passos
Médica e coord. da RAPS



Hoje, de acordo com a coordenadora da RAPS, apenas 5 equipamentos oferecem consulta inicial pela rede pública para triagem dos pacientes com alterações neuropsicomotoras:

  • Apae (21 vagas)
  • Casa da Esperança (15 vagas)
  • Centro de Atendimento Educacional Especializado Pestalozzi (2 vagas)
  • Centro de Integração Psicossocial do Ceará (8 vagas)
  • Instituto Moreira de Sousa (23 vagas)

Outros 5 locais recebem crianças com TEA para reabilitação e acesso a terapias:

  • Centro Integrado de Atendimento e Reabilitação - CIAR (8 vagas)

  • Policlínica Dr. João Pompeu Lopes Randal (24 vagas)
  • Policlínica Dr. Luiz Carlos Fontenele (16 vagas) 
  • Policlínica Lusmar Veras Rodrigues (12 vagas)
  • Espaço Seres (10 vagas)

Para os demais transtornos, com exceção do TEA, apenas dois equipamentos do SUS estão disponíveis aos pacientes para reabilitação: o CIAR (12 vagas) e a Policlínica Dr. João Pompeu Lopes Randal (4 vagas).

médica Luciana Passos avalia que é preciso capacitar os profissionais da atenção primária para refinar os diagnósticos, que crescem a uma velocidade que a rede de assistência não tem conseguido acompanhar.

“Precisamos ampliar o conceito de TEA, sair do mundo da saúde e ir pro social e educação. Não sei se são sustentáveis esses diversos laudos de TEA, que têm impactado até em benefícios como BPC (Benefício de Prestação Continuada) e aposentadorias”, cita Luciana.

Criança autista brinca com giz de cera coloridoLegenda: Tratamento para autistas incluem psicólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, entre outras especialidades
Foto: Shutterstock

A reportagem questionou à Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) quantas pessoas estão na fila de espera para atendimento especializado em TEA em todo o Ceará. A informação também foi exigida à Pasta pelo MPCE, durante audiência pública na segunda (23).

A coordenadora das Redes de Atenção à Saúde da Sesa, Rianna Nobre, afirma que “esse levantamento exige mais tempo”, visto que é preciso olhar para as especialidades requeridas por pacientes com TEA e identificá-los. 

FILA PARA CONSEGUIR CONSULTA

Quem está em busca de acessar as terapias especializadas já vem de outra saga: a espera para conseguir consulta com neurologista pediátrico. Hoje, são mais de 27,6 mil crianças aguardando pelo atendimento, das quais 529 têm suspeita de autismo. 

O fluxo seguido na rede municipal é o seguinte: primeiro, a criança precisa ir a uma consulta geral no posto de saúde; de lá, será encaminhada ao neurologista pediátrico, que, se for o caso, direciona o paciente à busca por terapia da condição neuropsicomotora.


Fonte: Diàrio do Nordeste 

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