A
população de vários municípios do Cariri, principalmente de Juazeiro do
Norte, foi surpreendida com as fortes
chuvas na manhã de ontem. A água começou a cair por volta das 7h e durou toda a
manhã, provocando alagamentos e congestionamentos, mas nada que tire a alegria
do sertanejo diante de chuva em meio a seis anos de precipitações abaixo da
média.
As
principais vias que ligam Juazeiro do Norte às duas principais cidades vizinhas
ficaram completamente alagadas. Na Avenida Padre Cícero (CE-292), entre Crato e
Juazeiro, nas proximidades do Atacadão, as duas pistas ficaram tomadas pela
água e alguns veículos ilhados. O cenário não foi muito diferente na Leão
Sampaio (CE-060), no bairro Lagoa Seca, que há vários anos é afetado pelas
chuvas, impedindo os carros de trafegarem. Alguns engarrafamentos se formaram.
O consultor
de vendas Kleber Nobre chegou atrasado ao trabalho graças ao volume de água
acumulado nas vias. Segundo ele, em algumas não tinha como atravessar por causa
dos esgotos entupidos. "Quando saí de casa, não estava chovendo. Aí,
quando começou, me molhei todo, além da mochila, dos sapatos e alguns
documentos", conta.
Em nota, a
Secretaria de Infraestrutura de Juazeiro do Norte (Seinfra) informou que o
prefeito Arnon Bezerra está em contato com instituições financeiras
internacionais para o custeio da drenagem na cidade. Após todo o acerto, o
processo será levado à Câmara de Vereadores para aprovação. No entanto, outras
drenagens de menor porte se encontram em processo licitatório.
A Pasta
acrescenta que, no mês de janeiro, iniciou a Operação Inverno, que foi
planejada em outubro passado. Nela, são tomadas medidas paliativas como
serviços de terraplenagem e desobstrução de bueiros, canaletas e bocas de lobo.
Além disso, Arnon Bezerra percorreu a cidade com técnicos para mapear os pontos
afetados pelas chuvas.
A última
grande chuva em Juazeiro do Norte ocorreu no dia 7 de janeiro passado, quando
foram registrados 54,5mm. Na época, evidenciou diversos problemas estruturais
na cidade e algumas escolas tiveram as aulas remanejadas para outras salas ou
suspensas.
Entre as
7h de terça-feira (6) e às 22h de ontem, choveu em todas as regiões do Estado
do Ceará, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
(Funceme), banhando 74 municípios.
Em Granja,
na Zona Norte, foram registrados 72mm. A segunda cidade com maior precipitação
no período foi Barro, no Cariri, com 57mm. Completam a lista de maiores volumes
Hidrolândia (53mm), Brejo Santo (50mm), Parambu (40mm), Sobral (39,8mm),
Meruoca (32mm), Morrinhos (28mm) e Massapê (28mm).
Segundo o
supervisor da Unidade de Tempo e Clima da Funceme, Raul Fritz, as chuvas desta
quarta-feira (7) são parte da quadra chuvosa do Ceará, influenciada pela Zona
de Convergência Intertropical (ZCIT).
Mas também
pode ter pequena atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, que atinge,
no máximo, a Bahia, mas altera um pouco a atmosfera e interage para facilitar
as precipitações no Sul do Ceará.
"Vez
por outra acontecem essas chuvas mais consistentes. A gente previu, na
terça-feira, que aconteceriam. Mas são variáveis, dependendo da região, pode
ter chuvas parecidas, fortes. Mas todo o Estado está sujeito", explica
Fritz.
A Funceme
acredita que estas chuvas fortes e duráveis podem continuar no Cariri porque é
possível que se forme um sistema de nuvens convectivas de média escala. A
previsão para hoje (8) é de nebulosidade variável com chuva em todas as regiões
do Estado. Na sexta-feira (9), poderá ter nuvens carregadas no Centro-Norte e
possibilidade de chuva no Sul do Ceará.
Com as
chuvas de terça-feira para quarta-feira, foi registrado aporte de água de
4.433.408 m³, somando 29 açudes no Ceará. Segundo a Companhia de Gestão dos
Recursos Hídricos (Cogerh), houve um aumento de 3.909.794 m³ no volume
armazenado, considerando a evaporação e liberação no período. O Açude Gangorra,
em Granja, teve o maior aporte, com 1.825.200 m³.
Mesmo
assim, alguns reservatórios na sub-bacia do Salgado continuam preocupando pelo
baixo volume apresentado nos seis últimos anos de seca. Um deles é o Lima
Campos, em Icó, que deve ter água até o fim de abril ou início maio, segundo o
gerente da Cogerh de Crato, Alberto Medeiros. A esperança é que ele tenha
aporte na quadra chuvosa. "Temos levado água por adutora do Orós, mas ele
mesmo já está secando", explica Alberto.
Além dele,
o Manuel Balbino, o popular "Açude dos Carneiros", em Juazeiro do
Norte, só terá água até junho. Ele é responsável pelo abastecimento da cidade
vizinha, Caririaçu. Já o Genipapeiro II, que fornece água para Umari, Baixio e
Ipaumirim, está sendo, assim como o Açude do Junco, responsável por Granjeiro.
No interior dos dois reservatórios foram perfurados poços profundos que têm
conseguido evitar o colapso hídrico nestas cidades.
As fortes
chuvas que molharam Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte, na manhã de ontem,
para Alberto Medeiros, não significam muito para o abastecimento destas três
cidades, pois o volume fez a água correr, impedindo que ela infiltre nos
aquíferos. "Mas estas cidades não correm risco porque são abastecidos pela
água subterrânea da Bacia Sedimentar do Araripe, que tem grande volume",
pontua.
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