Em 1918, quando Aderbal e Chico nasceram, a cerca de 280 quilômetros um do outro, nenhum deles poderia imaginar que estariam juntos numa reportagem, em um dos dias mais confusos, tensos e decisivos da política nacional. Se por um lado os dois são unidos por semelhanças, como terem nascido na região Norte do Estado e terem um século de vida em 2018, por outro, estão em lados partidários opostos. Lúcidos, eles saem em defesa de candidatos que representam projetos políticos distintos.
Aderbal Portela nasceu em abril de 1918 na localidade de Palmas, hoje, Município de Coreaú. Com 12 filhos, teve 44 netos e 32 bisnetos. Ainda jovem, se mudou para Cariré, onde entrou na vida pública. Como prefeito ou vice, foram quatro mandatos na cidade.
Uma das principais críticas dele à situação política atual é a corrupção. "Esses políticos que estão no poder, muitos são corruptos. Se aplicassem o dinheiro que tem nos cofres públicos, o Brasil era outro".
O ex-prefeito não conhece Chico, também centenário. Nascido Francisco Soares da Silva, em setembro de 1918, no distrito de Lagoa de São João, em Aracoiaba, este nunca foi candidato. Agricultor, vaqueiro, profeta da chuva, contador de "causos", também tem uma longa linhagem. Foram 13 filhos, que geraram 19 netos e 18 bisnetos. O idoso conta que, onde mora, a maioria da população tem a mesma orientação política. "Aqui tem muito Lula, muito mesmo". Ele afirma que sempre votou no petista e, depois, em Dilma Rousseff (PT). "Era um governo bom porque olhava para os pobres", opina.
Democracia
Hoje, mesmo com problemas de mobilidade, faz questão de votar. Sabe que o candidato favorito, Lula, não está concorrendo, por estar preso. Mas vai de Haddad. "Sendo gente dele, eu voto", diz.
Já para Aderbal, Lula decepcionou. "Era a estrela do povo, mas pegou 12 anos de prisão". Na família, a preferência é pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL). "Acho que deve entrar agora um militar para ver se melhora", defende.
Os dois viveram na época da ditadura militar e reconhecem a importância da democracia. Aderbal conta que "o pessoal, muitas vezes, votava com medo de ser preso". Já Chico não lembra detalhes do período, mas explica que não gostaria de ver militares voltando ao poder. Ele não acha positiva a polarização gerada nestas eleições. "Hoje, um quer de um jeito e o outro quer de outro", afirma. "Aí, ninguém sabe mais nem dizer o que é bom", conclui.
FONTE: Diário do Nordeste
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