Rodrigo Janot sai de cena, mas as consequências da sua atuação como procurador-geral da República fincam no poço da política brasileira o PT e o PMDB, além de deixarem chamuscadas algumas outras importantes legendas do cenário nacional, projetando, para o pleito do próximo ano, resultados sombrios para integrantes de todas essas agremiações, inclusive no Ceará, embora aqui não tão acentuados.
Os petistas e peemedebistas daqui tendem a sofrer uma baixa relativamente grande em relação aos números de votos conquistados no pleito de 2014, quando ambas as siglas tiveram candidatos ao Governo do Estado, por motivações outras.
PT e PMDB do Ceará, por razões diferentes, mas, enfatize-se, não propriamente por questões ligadas à Lava-Jato, mas também por ela, sequer terão quadros para apresentarem chapas completas de candidatos competitivos às vagas na Assembleia Legislativa e Câmara Federal, sobretudo agora, quando é praticamente certo não haver mais coligação partidária para as eleições proporcionais, afastando os aventureiros que postulavam cadeiras nas Casas legislativas apostando nos votos das legendas, o somatório dos votos conquistados por todos os candidatos, gerando a idiossincrasia de o eleitor votar em um nome e acabar elegendo outro.
Esses dois partidos perderam vários deputados no espaço de tempo entre os pleitos de 2014 e o do próximo ano, quase todos pelo afago ou cargos do Governo, aliado aos descontentamentos com líderes das respectivas agremiações.
E não se tem notícia de novas filiações em condições de preencher o vazio aberto, implicando, por evidente, em se enfraquecerem na busca da conquista, inclusive das vagas garantidas no pleito passado. PT e PMDB podem ficar limitados a um deputado federal cada. Na Assembleia os petistas podem ter apenas dois deputados, se confirmada a postulação de Luizianne Lins para uma das cadeiras, e o PMDB igual número.
Enérgica
O PT já não tinha a mesma força política quando Janot chegou à Procuradoria da República. O chamado "mensalão", seguido de outros escândalos de menor potencial, comparando-se com os motivadores das recentes prisões de integrantes dos seus quadros, resultado da ação fiscalizadora enérgica do Ministério Público Federal, motivaram não só o aumento do repúdio de parte da sociedade brasileira, como serviram para consolidar o afundamento do partido.
E o PMDB, o seu primeiro aliado, pelas mesmas práticas escandalosas dos seus principais atores, passou a ser, nos últimos tempos, o principal protagonista das práticas criminosas conhecidas pelos brasileiros.
As acusações oficiais graves, sobre a prática de corrupção e outros ilícitos contra figuras importantes para os dois partidos, como o presidente Michel Temer, o ex-presidente Lula e outros dos seus respectivos grêmios são, evidente, a razão central do empecilho para novas filiações, embora possam ser apontadas algumas exceções como o caso recente do senador pernambucano Fernando Bezerra e o filho, ministro das Minas e Energia, que trocaram o PSB pelo PMDB, em razão da perspectiva de concorrer com o atual governador, a chefia do Executivo daquele Estado.
O PMDB do Ceará não tem espaço para albergar caciques. Situação diferente dessas duas siglas mais citadas é a do PP.
Esta agremiação, mesmo tendo o seu presidente nacional, senador Ciro Nogueira, bastante citado na Lava-Jato, vencidas as pendengas internas locais pelo comando do diretório estadual, poderá surgir como a segunda maior bancada da Assembleia, pós-eleição de 2014, por filiar governistas cujas relações sejam realmente inconciliáveis com pedetistas em seus respectivos locais de atuação político-eleitoral, confirmando-se, assim, a pouca interferência do processo da Lava-Jato neste Estado.
As demais outras siglas, inclusive o PSDB, só a partir do próximo mês, com a definição da legislação que disciplinará o próximo pleito, poderão ter clareado o seu patrimônio pós-eleição de 2018.
Discurso pronto
O ex-governador Cid Gomes (PDT) vai dizer a quem lhe abordar sobre uma aliança do seu partido com o PMDB do senador Eunício Oliveira, para a reeleição deste e a do governador Camilo Santana, que "quem conduz a sucessão (estadual) é o governador. O que ele (Camilo) fizer terá o meu apoio".
No dia 2 de setembro, neste espaço, escrevemos sobre um entendimento em curso sobre a participação do senador Eunício Oliveira na chapa encabeçada pelo governador Camilo Santana, no próximo ano, fechando a chapa majoritária que incluiria, ainda, Cid Gomes como postulante a uma das duas vagas de senador e Zezinho Albuquerque como vice de Camilo.
Cid não estava no Brasil, na oportunidade, mas já havia sido informado sobre todas as tratativas iniciadas por terceiros interessados, ligados aos dois lados. Ele não criou obstáculo para a continuidade das conversações, embora tenha ouvido opiniões divergentes de aliados sobre a concretização do entendimento, sempre lembrando, porém, ser o governador o responsável pela condução dos entendimentos pela condição de principal interessado na sua reeleição.
Eunício e Cid ainda não conversaram, mas parece não demorar muito esse diálogo acontecer, longe das câmaras e dos curiosos também por conta do distante tempo da homologação das alianças.
Dizendo-se comprometido em ajudar o irmão Ciro Gomes a ter uma boa votação no Estado como candidato a presidente da República e trabalhar pela reeleição de Camilo, Cid Gomes diz saber assimilar os discursos da política, mesmo aqueles duros, sem afronta à honra, posto resultarem das inconformações, principalmente dos resultados eleitorais, absorvidas ao longo do tempo. Ademais, comprometido com o sucesso eleitoral do governador, não será entrave para as negociações em curso